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Terça-Feira, 18 de Novembro de 2014

Da 'Cohab' para a NBA: conheça a nova 'toda poderosa' do basquete americano

A nova principal executiva do Sindicato dos Atletas da NBA tem uma história de vida impressionante.

Michele Roberts nasceu há 58 anos em um conjunto habitacional no Bronx, um dos distritos mais violentos de Nova York, bastante similar às Cohabs brasileiras (os conjuntos de casas populares em bairros periféricos das grandes cidades).

Estudou em escola pública durante toda a vida, mas mostrou tamanha excelência que conseguiu uma bolsa na prestigiosa Universidade da Califórnia, em Berkeley. Formou-se em direito e trabalhou em grandes firmas até entrar para o mundo do esporte.

Ela foi a primeira mulher na história eleita para representar os atletas da NBA em julho, durante uma reunião no Aria Resort & Casino, em Las Vegas. Frente a 117 jogadores milionários, ela usou palavras fortes.
"Como vocês podem ver, sou uma mulher, e suspeito que o resto do mundo possa ver isso também", discursou a advogada, sobre o mundo predominantemente masculino da NBA, que tem poucas mulheres em cargos diretivos, de agenciamento ou de imprensa.

"Mas digo uma coisa a vocês: meu passado está cheio de ossos de homens que foram tolos o bastante pra achar que podiam levar vantagem sobre mim", completou.

Michele foi imediatamente eleita com 32 dos 34 votos possíveis.

"Eu não vivo minha vida pensando: 'qual teto eu vou quebrar amanhã?'", disse a advogada, em entrevista ao jornal The New York Times.

"Mas o que eu sempre fiz, e o que eu digo às minhas sobrinhas, é para elas não se preocuparem se serão as únicas, mas sim em ser as melhores", afirmou a "toda poderosa", que não é casada e não tem filhos.

Ela venceu 300 candidatos antes de ser eleita como a chefe do grupo.

"Sua história e seu sucesso convenceram os jogadores na hora. Eles se identificam com ela", exaltou Roger Mason Jr, vice presidente do sindicato.

Vida na Cohab

Nascida em 14 de setembro de 1958 nas Melrose Houses, um conjunto habitacional no Bronx, Michele é uma das cinco filhas de Elsie Roberts, que criou as crianças sozinha, enquanto fazia faxina e complementava a renda cozinhando marmitas.

Após se destacar no ensino público de Nova York, Michele ganhou uma bolsa na Masters School, uma escola apenas para mulheres em Dobbs Ferry, Nova York. Aceitou e se mudou para viver na instituição. Ela era uma das duas alunas negras do local.

"Isso serviu como treino para minha vida profissional. Foi nesse tempo que percebi que ser diferente não significa ser inferior", bradou.

Apesar de ser admirada pelas garotas brancas do local, devido à sua inteligência e seu senso de humor afiado, Michele lembra com desconforto dessa época, quando era tratada como um "alinígena", como ela mesmo descreve.

Em um dos episódios relatados, ela estava escovando os dentes quando algumas garotas se aproximaram e pediram para tocar em seu penteado black power. Uma das garotas perguntou se ela penteava o cabelo para ficar daquele jeito, ou se ele ficava assim o tempo todo, ao que Michele respondeu sem papas na língua: "Essa é a pergunta mais estúpida que já ouvi".

As duas não se falaram por quatro meses.

Michele terminou os estudos com louvor, e ainda se destacou por fundar o "Pomoja", clube para novas alunas negras que entraram na Masters School.

Em seu Year Book, tradicional recordação dos norte-americanos quando terminam o ensino médio, ela colocou uma frase do poeta Nikki Giovanni.

"A maior alegria é encontrar uma barata grávida e pisar em cima dela".

Da faculdade à lei

Após ingressar na Universidade da Califórnia, Michele rapidamente chamou a atenção entre alunos e professores por ser extremamente focada e estudioas. Desde o primeiro dia, assegurou: "Quero ser defensora pública".

Seu primeiro trabalho foi voluntário, na prisão de San Quentin, onde defendia detentos condenados à morte. Após se destacar, mudou-se para Washington, capital dos Estados Unidos, onde ficou famosa.

Atuando principalmente em casos de estupro e homicídio, ela livrou (ou abrandou a pena) de muitos acusados, sempre se destacando nos tribunais. Ela era tão boa que todos os julgamentos em que atuou estavam cheios de outros advogados e alunos de direito que iam às sessões apenas para assistir Michele em ação.

"Era como assistir a um grande evento esportivo", recordou Barbara Van Gelder, promotora que foi derrotada duas vezes na corte por Michele Roberts.

Um dos maiores casos de Michele aconteceu em 1984, em um caso no qual 10 pessoas foram acusadas de roubo, espancamento e assassinato de uma mulher de 48 anos. Roberts foi designada para defender um dos homens acusados de homicídio.

Seu cliente foi um dos dois julgados que escaparam da pena.

Chegada à NBA

Michele começou a se desiludir com a vida de advogada criminal nos anos 90. Depois de salvar dois clientes em casos de homicídio, viu os homens serem assassinados por vingança dias depois dos julgamentos. Começou a pensar que talvez fosse melhor que eles fossem para a prisão, onde teriam chance maior de continuarem vivos.

Resolvou mudar seu foco, e passou a atuar somente em casos de colarinho branco. Começou em uma firma menor, mas mostrou tamanho preparo que logo foi contratada pelo Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom, um dos maiores escritórios de Washington.

Apesar de estar satisfeita na capital americana, resolveu se arriscar na vaga para ser a nova executiva-chefe do Sindicato dos Jogadores da NBA. Não contou a ninguém que iria entrar na concorrência, e também não explicou suas motivações.


Talvez porque quisesse mais uma vez provar seu ponto, opinou Roger Mason Jr, vice-presidente do sindicato.

O fato é que ela venceu 300 candidatos e ficou com a vaga, mostrando mais uma vez ser uma das melhores advogadas dos Estados Unidos.

Apesar de estar na crista da onda agora que é uma das "poderosas" da NBA, Michele Roberts não mudou em nada sua personalidade. Enquanto posava para fotos em seu escritório, pediu desculpas à fotógrafa que sofria para conseguir um bom click.

"Lamento, mas não sou de sorrir muito".

Osso duro de roer

Mal assumiu no Sindicato dos Atletas e Michele Roberts já mostrou que vai ser um osso duro de roer para os donos de franquias e para os chefões da NBA.

Em entrevista exclusiva à ESPN, a advogada afirmou que quer acabar com o teto salarial que existe na liga americana desde a temporada 1984/85.

"Eu não conheço nenhuma outra atividade no mundo na qual alguém decide artificialmente o quanto alguém é capaz de ganhar. Isso é incrivelmente anti-americano. Meu DNA se ofende com isso", disparou, sobre o teto-salarial.

A resposta da NBA foi imediata, por meio do comissário Adam Silver: "Não poderíamos discordar mais. [...] O teto-salarial serve desde os anos 80 como fundação para o crescimento da liga, o que permitiu à NBA ter os mais altos salários de atletas do mundo".

A advogada também vai exigir que a divisão dos lucros provenientes dos diretos de televisão vá majoritariamente para os atletas. Atualmente, fica em 50% para os jogadores e 50% para os dirigentes.
"Se continuar assim, é melhor que os donos dos times entrem em quadra e joguem metade dos jogos. Não haveria dinheiro nenhum se não fossem os jogadores", ressaltou.

Por isso, a liga já espera enormes tensões quando o próximo acordo de direitos de TV passar a ser negociado, em 2016, valendo para a temporada 2016/17.

Outro ponto em que Michele está atuando é para diminuir a temporada regular, que atualmente tem 82 jogos. Nessa luta ela ganhou o apoio de algumas das maiores estrelas do campeonato: Kobe Bryant, do Los Angeles Lakers, LeBron James, do Cleveland Cavaliers, e Dirk Nowitzki, do Dallas Mavericks.

"Toda vez que um jogador se machuca, eu penso: 'Meu Deus, eles estão sendo levados ao limite de seus corpos'. Se diminuirmos a temporada, obviamente haverá menos dinheiro. É algo que devemos e queremos discutir. Mas, na minha visão, diminuir a temporada não vai prejudicar o basquete, mas sim torná-lo melhor", opinou a advogada.

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